30% de 100 milhões ou 100% de 30 milhões? Sócio(a)s!

Por Leonardo Silva

Então....30% de R$ 100 milhões ou 100% de R$ 30 milhões? A minha escolha é fácil e minha resposta talvez esteja lá no final – sem spoiler.

Em artigo recente expressei minhas opiniões com relação a diferença entre insight, ideia e produto. Conclui de que a ideia vale pouco pois a grande questão é sempre testa-la ou executa-la entregando valor ao cliente e conseguindo cobrar de forma eficiente por isso. Mas como executar? Grandes ideias não sobrevivem a execução ruim, mas ideias razoáveis podem ir longe se bem executadas por um time de bons empreendedores fundadores.

Você, empreendedor(a), tem maiores chances de êxito com sócios. Isso mesmo, bons sócios! Hoje, vou focar em apenas um dos itens da boa execução – que é a formação de um bom time empreendedor. E para formar um time fazedor e vencedor, não há como não falar do sócio. É isso mesmo, o sócio ou a sócia. Mas precisa ter sócio? Não, mas empreendimentos de sucesso são formados por equipes multidisciplinares. De acordo com pesquisa recente do CB insights 35% das empresas falham porque não identificam o problema do cliente, 25% porque falta dinheiro e outros 25% por deficiências na equipe ou disputas internas. E suspeito que encontrar o problema do cliente passa por equilíbrio, sinergia e equilíbrio na sociedade.

Mas por quê? Listo aqui algumas principais razões:

- Não há profissional que seja bom em todas as disciplinas de negócio. Uns sabem vender, outros preferem cuidar dos clientes, outros preferem a gestão e outros criar produtos e comunicar. Todo empreendedor precisa saber um pouco de tudo mas é ilusão achar que é bom em tudo. 

- Aprendi que diversidade sempre traz melhores debates e melhores soluções e produtos. Isso é um fato. As pessoas de origens diferentes, idades diferentes e conhecimentos diferentes debatem muito, mas chegam a resultados superiores e mais completos.

- Tem gente que gosta de pensar e gente que gosta mais de executar. Esse equilíbrio é benéfico para o negócio no longo prazo pois existe a missão e a visão. Entretanto, também existe a meta de venda do mês e a receita nova que precisa entrar no caixa.

- Na sociedade se exercita o contraditório antes dos testes no mercado. É importante ter alguém para discordar e propor visões diferentes dentro de casa. Por isso, é importante ter ambiente de respeito mútuo e admiração para (isso acontecer).

- Os sócios seguram as pontas quando as coisas não estão bem e ajudam na motivação interna. Nem todo mundo está bem todos os dias e talvez seu sócio possa levantar seu astral naquele dia ruim – e vice-versa.

- A vida do empreendedor já é solitária. E com bons sócios, essa vida é bem menos solitária. É ter companhia para enfrentar problemas e celebrar conquistas.

- No início do empreendimento, até que o negócio decole, não há capital para contratar especialistas e os sóciosexecutam. Então, quanto maior o conhecimento e capacidades de cada sócio dentro do grupo de sócios, maior será a chance de uma boa execução.

- O Networking de mais pessoas é muito melhor. Isso é também um ponto fundamental. Um grupo chega a um número muito maior de pessoas.

- Você aprende com seu sócio e passa a ter alguém para te levar para outro nível.

- E olha só – você consegue ter uma agenda mais flexível, e depois de alguns anos, e até, em teoria tirar férias pois tem sócios que irão segurar a onda na sua ausência.

E é fácil achar sócios? Não! Nunca foi. Mas não é por isso que não deva encontra-los. E o que você deveria considerar para achar o sócio quase perfeito?

- Ter valores e princípios morais similares. Isso é fundamental. Sua empresa será desafiada pelo mercado, por clientes, por colaboradores. Os fins justificam os meios? Não subestime este fator. Acho importante pensar igual neste ponto.

- Relação com dinheiro bem clara e alinhada. Seu sócio quer investir os ganhos no negócio ou quer fazer retiradas? Quer pró-labore alto e poucos dividendos ou o contrário? Você quer agregar valor e o dinheiro será consequência e o seu sócio quer ficar milionário?

- Visão do negócio alinhada. Você quer começar pequeno e ganhar o mundo? Seu sócio quer ser uma potência local e regional?

- Respeito e admiração. Você vê as qualidades do seu sócio?  Ele enxerga as suas? isso ajuda a cortar a ´bullshitagem´ e as meias palavras quando fatos precisam ser debatidos com rapidez e objetividade. Isso é o que permite separar o pessoal do profissional.

- Papéis claros na gestão. Não adianta todos estarem na atividade comercial se esta aptidão não é clara em todos. É contraproducente todos estarem na mesma atividade e emite sinais equivocados a colaboradores e clientes.

- Honestidade. Tem ficha suja? Nem comece o negócio. As atitudes parecem suspeitas? Não comece a sociedade. Nunca foi tão importante ser integro e verdadeiro no seu negócio em tempos de internet e redes sociais. Não há tempo de documentar tudo o tempo todo. 

- Competências complementares. Esse é um clássico. Seu sócio é igual a você? Conhece as mesmas disciplinas? Não vai funcionar. Busque a complementação de perfil e fortalecer seus pontos fracos.

- Transparência. Outra vez, é preciso ser direto ao ponto. O negócio em estágio inicial tem esta vantagem em comparação aos grandes ambientes do mundo corporativo.

- Confiança. Não confia? Pule fora do barco. Esta viagem é longa e cheia de desafios.

 

E o que evitar?

- Sócio como você. Isso mesmo. Muita gente tem a tentação de se aproximar de sócios por afinidade.

- Novo sócio porque você precisa de dinheiro. Isso é um erro clássico e levas a consequências desastrosas. Busque um investidor anjo.

- Sócios que não queiram trabalhar no dia a dia. Pois é, nesta condição é melhor conseguir investidor anjo.

- Sócios que estão empreendendo por falta de emprego. São coisas completamente diferentes.

- Sócios que não tem uma visão clara sobre os desafios. Essa miopia ou negação pode matar o negócio.

- Sócio que acredita em atalhos ou soluções fáceis para o sucesso. Não caia nessa. Não tem almoço grátis.

- Sócio que quer estar em capa de revista ou ser empreendedor de palco. Isso mesmo, existem muitos. Isso não é meta e sim consequência de algo bem feito.

- Sócio que é educado com você, mas trata mal o garçom ou a pessoa da limpeza.

- Sócio que tem sempre mais respostas prontas do que questionamentos inteligentes

- Sócio pessimista. Gente pessimista não investe, não cria nada novo e não arrisca. Sócio realista esperançoso é o perfil que mais me agrada.

 Penso que bons empreendimentos são pensados, testados e executados por um time de 2 a 3 pessoas com conhecimentos, habilidades e atitude complementares. E pesquisas recentes, como a da Abstartups, mostram que grande parte das startups de sucesso são formadas por times mais maduros – entre 35 e 45 anos de idade – e com experiência ou conhecimento profundo do mercado de atuação. O famigerado Mark do Facebook é a exceção da exceção e isso é, na prática, uma concepção distorcida da realidade.

 

E o que o investidor procura?

A maioria dos investidores investe em teses de negócios bem fundamentadas, em mercado crescente e na capacidade de execução deste time. Existe no mercado a expressão: o investidor investe no jockey e não no cavalo. Na minha opinião se trata de mais um jargão do mundo do investimento em startups e uma falácia de certa forma. Não minimizo a importância e a relevância do time empreendedor, mas conheço e já conheci muito executor brilhante sem uma boa solução e uma visão de mercado. Então, na minha concepção, se investe no jockey, no cavalo, nos clientes apostadores e até no mercado onde as provas serão disputadas. Na minha empresa, a Wiztartup, fundada com o meu sócio e amigo Carlos, nós somos diferentes e complementares, porém muito similares nos valores e na visão. Não procuramos unicórnios (mas se aparecer está valendo....rs), e sim bons negócios formados por times de empreendedores que saibam executar um plano ou muda-lo no meio do caminho. Aqui pensamos um só jockey tem menores chances de acertar sozinho e que o risco do empreendimento e da aposta fica muito elevado sem uma equipe de bons jockeys na corrida, que é longa e requer paciência e resiliência.

Um ponto importante é que exista um acordo de sócios formal. E não confunda com o contrato social da empresa pois este não prevê tudo o que se acorda entre sócios e tão pouco se deixa publico. Mas isso também pode ser assunto para outro post. Se uma startup é uma empresa procurando resolver um problema com um modelo de negócio escalável e usando novas tecnologia em um ambiente de extrema incerteza, é quase certeza de que a força do time fundador tem uma importância fundamental no sucesso ou fracasso do empreendimento.

E você poderá pensar: - Ah, Leonardo! Eu já encontrei a pessoa, mas ela não quer trabalhar comigo no meu projeto. Essa é a primeira venda que você precisará fazer sobre o seu negócio! Quer, de fato, encontrar um? Precisa estabelecer o perfil, ter um pitch sobre o seu negócio, saber falar sobre você (incluindo defeitos e pontos que precisa complementar) e demonstrar que seu negócio tem muito potencial. Em maior, ou menor grau, saber vender é competência essencial de todo empreendedor. Mas isso também é um tema para outro artigo. E eu já tive problema com sócios no passado. Após algumas experiências e estudos, penso que ando mitigando este risco com algum sucesso ultimamente.

O bom sócio, de forma geral, não se encontra no Shark Tank, no aprendiz do Roberto Justus, no programa O Sócio no The History Channel ou postando vagas no Instagram ou no Linkedin. Irá precisar usar seu networking e conexões. E quando encontrar o sócio ou a sócia, cuide bem deles e do relacionamento.

E você? Prefere ter 30% de R$ 100 milhões ou 100% de R$ 30 milhões? Nada de errado com qualquer opção, mas eu prefiro os 30%, pois penso que a chance de chegar lá é amplamente muito maior e melhor, com muito mais crescimento e com maior satisfação - mesmo com todos os desafios na sociedade.

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